segunda-feira, 14 de maio de 2007

Construtoras criticam projeto de energia solar em prédios

Elas alegam que este tipo de energia só é adequada para imóveis menores

Estadao.com.br
por Humberto Maia Junior

SÃO PAULO - O Sindicato da Habitação (Secovi) vai se reunir com vereadores para propor mudanças no projeto de lei enviado esta semana à Câmara pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM), que obriga novas edificações a utilizarem energia solar para obter pelo menos 40% do aquecimento de água. Para o diretor de Instalações do Secovi, Paulo Rewald, a obrigatoriedade só faz sentido para casas e prédios residenciais baixos. “Não sou contra a energia solar, mas devemos discutir sua viabilidade, para que não tenhamos mais uma lei que não pega.” Ele disse que edifícios comerciais não devem sofrer alterações com a proposta, porque não têm banheiros com água quente.

Rewald vai dizer aos parlamentares que prédios com muitos apartamentos têm perfil incompatível com o aquecimento por energia solar. O primeiro problema citado por ele é a falta de espaço para a instalação das placas de captação em quantidade suficiente para atender à demanda. “Não tem como colocar nas coberturas.”

O diretor do Secovi calculou que é preciso instalar placas de 1,3 metros quadrados por pessoa. “Num prédio de 18 andares, com quatro apartamentos por andar e cinco pessoas por apartamento, situação bastante comum em São Paulo, seriam necessários 468 m² de placas. Não existe esse espaço.” Ele afirmou que é impossível aproveitar áreas do térreo. “Se constrói um prédio mais alto do lado vai criar sombra.”

Rewald disse ainda que, mesmo que o edifício tenha condições de empregar energia solar, o custo será de cerca de R$ 2 mil por apartamento. Outro problema apontado é a necessidade de o sistema de aquecimento ser centralizado. Em prédios novos, cada apartamento tem o próprio medidor de água. “Se for adotado o sistema centralizado, sempre vai haver a discussão entre moradores que consomem mais e os que consomem menos água.”

Rewald também disse que São Paulo não tem muitos dias com insolação suficiente para geração de energia. Segundo pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia, a cidade teve, de 1961 a 1990, uma média de 1.732 horas de insolação por ano. A média nacional é de 2.200.

Para o físico Délcio Rodrigues, que trabalha com planejamento energético e é associado à ONG Vitae Civilis, o projeto de lei é viável. Ele cita o exemplo de Barcelona, onde todas as edificações são obrigadas a ter energia solar. “Em São Paulo a lei é suavizada.”

O pesquisador admite que alguns prédios não têm espaço para instalar placas de captação para atender aos moradores. “Mas a maioria tem, até porque a lei não exige 100% da água aquecida por energia solar.”

O presidente da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente da Câmara, Dalton Silvano (PSDB), considera que a proposta é importante por colocar em debate o uso de energia limpa e renovável. “Temos de aumentar a nossa matriz energética, ainda mais que o País vive uma crise nessa área.” Silvano não acredita que os métodos de edificação sejam um obstáculo. “Nossa engenharia será capaz de achar soluções.”

O vereador Paulo Fiorilo (PT) elogiou a proposta, mas disse que é necessário avaliar seu impacto. Fiorilo tem dúvidas sobre como será fiscalizada a lei e sobre como os órgãos públicos, municipais, estaduais e federais, vão se adaptar a ela. “Minha primeira impressão é positiva”, afirmou o petista. “Mas precisamos ouvir especialistas e a construção civil.”

Um comentário:

Tobias Amorim disse...

" O primeiro problema citado por ele é a falta de espaço para a instalação das placas de captação em quantidade suficiente para atender à demanda. “Não tem como colocar nas coberturas.” "

Coletores solares nao necessitam tao somente de serem instalados na cobertura, eles podem ser empregados também na fasada do prédio. Existem varios exemples dessa aplicacao aqui na alemanha.

Bom que venham com esse tipo de lei. Ao invez de reclamarem da lei e dizer que nao é possivel, deveriam pensar em como tornar o aparentemente "impossivel" em realizavel.

"o custo será de cerca de R$ 2 mil por apartamento."

Custo ridículo, se considerar uma ducha de 5kW e o banho de 1h por dia se tem o um custo de R$ 1,5 por dia, ou seja, em 3,6 anos o sistema já foi amortizado. Apartir daí é só lucro, e o mesmo funciona por mais de 20 anos sem problemas.