Por Thiago Romero, Agência FAPESP
O nível de consciência da população brasileira sobre as questões ambientais é alto e ocupa a sétima posição de um ranking que acaba de ser divulgado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. No estudo, o Brasil, país em que 24% da população diz se preocupar com as mudanças climáticas, aparece à frente do próprio Reino Unido (15%) e dos Estados Unidos (13%).
A pesquisa de opinião entrevistou 26.486 usuários de internet em 47 países e foi realizada pelo Instituto para Mudança Ambiental da universidade britânica, em parceria com a consultoria Nielsen Europe. O assunto foi discutido durante o evento "Impactos das mudanças climáticas no Estado de São Paulo", realizado no dia 6 de junho na sede da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), na capital paulista.
Os países que mais se preocupam com o tema, de acordo com o levantamento, são Suíça (36%), França (32%), Austrália (31%) e Canadá (31%). O interesse mundial pelo assunto também disparou nos últimos seis meses: 16% dos entrevistados consideram que a mudança climática é uma preocupação eminente – eram 7% em levantamento semelhante feito no fim do ano passado pela universidade.
“A demanda por informações referentes às mudanças climáticas aumentou brutalmente nos últimos meses, devido à publicação do quarto relatório de avaliação do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática], que traz dados mais consistentes sobre causas e impactos do aquecimento global”, disse Pedro Leite da Silva Dias, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), à Agência FAPESP.
“Sabíamos que a divulgação do relatório teria impacto na opinião pública, mas a repercussão está sendo muito maior do que imaginávamos. Desde o começo de fevereiro, quando foi divulgada a primeira parte do relatório, mais de três eventos por semana são realizados em diferentes regiões do país sobre o assunto”, aponta Dias, que foi um dos autores brasileiros da primeira parte do relatório do IPCC divulgado este ano.
Para ele, um fator positivo é o alto interesse que o relatório despertou no poder público, em especial em integrantes do Senado e da Câmara dos Deputados, além do setor produtivo, como em companhias vinculadas à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Dias destaca que não foram apenas governos e empresas que “acordaram para a importância da temática ambiental” – o Brasil é o quarto maior emissor de dióxido de carbono do mundo –, mas também estudantes, associações e cooperativas dos mais variados setores.
“O que mais impressiona é que as ameaças climáticas estão modificando a vida da população mundial de forma cada vez mais imediata. Mas a crise também pode gerar oportunidades. Esse é um momento único na história da humanidade de mudarmos padrões ambientais e caminharmos para a criação de sociedades mais sustentáveis. Não há como negar que teremos problemas, mas o tipo de adaptação para o aquecimento global deverá ser usado para melhorar as relações entre economia e meio ambiente”, defendeu.
Opinião consciente
O evento “Impactos das mudanças climáticas no Estado de São Paulo” contou ainda com a participação de Fábio Feldman, secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e Biodiversidade. Para ele, um dos grandes desafios do Brasil para a mitigação do aquecimento global será dividir todo o conteúdo produzido nas pesquisas para a elaboração de uma agenda de ações para o país. “A participação de toda a massa crítica disponível na comunidade acadêmica nessa direção é indispensável”, disse.
Outro integrante da mesa, João Steiner, diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, também lançou um desafio: “Sensibilizar o poder público para a tomada das melhores decisões ambientais na ótica da sociedade brasileira também é um papel da academia”.
“A pesquisa feita na Universidade de Oxford mostra que a opinião pública no Brasil está entre as mais conscientes do mundo, uma novidade importante que contribui para o debate das mudanças climáticas”, destacou Steiner.
Os impactos das mudanças climáticas na agricultura, na biodiversidade, no nível do mar e na saúde humana foram outros assuntos abordados na ocasião por especialistas como Carlos Alfredo Joly (Universidade Estadual de Campinas), Tércio Ambrizzi (USP), Luiz Cláudio Costa (Universidade Federal de Viçosa), Marcelo de Camargo (Instituto Agronômico de Campinas) e Roberto Schaeffer (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
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