sexta-feira, 27 de abril de 2007

Brasil quer fatia do mercado mundial de energia solar

Revista Fator

FINEP investe R$ 2,6 milhões em pesquisas no setor

Um casal de pesquisadores do Rio Grande do Sul quer colocar o Brasil entre os grandes no mercado mundial de energia solar. Desde 2004, Adriano Moehlecke e Izete Zanesco coordenam o desenvolvimento de uma planta piloto para produção industrial de módulos fotovoltaicos. A grosso modo, são as placas que absorvem radiação solar e a convertem em eletricidade. Ao fim do projeto, em maio de 2008, terão sido investidos R$ 6 milhões, dos quais R$ 2,6 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

"Nosso objetivo é produzir equipamentos com a mesma eficiência dos concorrentes internacionais, porém a custos menores. Descobrimos matérias-primas e processos mais baratos e, de acordo com previsões preliminares, podemos reduzir o preço dos módulos em até 15%", explica Adriano. O projeto é realizado no Núcleo Tecnológico de Energia Solar (NT-Solar), da Faculdade de Física da Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS).

O mercado de energia solar, que cresce em média 40% ao ano, movimentou cerca de US$ 15 bilhões em 2006. A capacidade de produção de todos os módulos vendidos ao redor do mundo no ano passado foi de 2.536 megawatts, o que equivale a 15% da potência de Itaipu, hidrelétrica responsável por 30% do abastecimento brasileiro. "Não a vejo como fonte principal, mas acho perfeitamente viável que a energia solar, no futuro, seja responsável por até 30% do abastecimento de qualquer país", explica Adriano.

Na União Européia, a meta é que, até 2020, 20% da energia utilizada seja renovável, o que inclui fontes alternativas como a solar, eólica e biomassa. "Se a energia solar conseguir 5% desse bolo, a procura por módulos fotovoltaicos será enorme", prevê Adriano. Hoje, a demanda na Europa já é maior do que a oferta. "A Alemanha, Espanha e Itália importam 45% do que é consumido, e só não compram mais porque não há produção industrial suficiente", afirma o pesquisador.

Existe, porém, um obstáculo para a popularização da energia solar: os altos custos. O preço médio do watt fica entre US$ 4 e US$ 5, cerca de cinco vezes mais do que o hidrelétrico. Para se ter uma idéia, o abastecimento de uma casa de dois quartos necessita de um sistema fotovoltaico de 1 kilowatt, que produziria em média 130 kilowatt/hora por mês em uma cidade como Porto Alegre. "Os avanços tecnológicos, a constante modernização da produção e a fabricação em maior escala fará os preços caírem naturalmente. Atualmente, o watt já é dez vezes mais barato do que em 1979", lembra Adriano.

Se nas áreas cobertas pela rede elétrica o preço da energia solar ainda assusta, para as regiões mais afastadas trata-se de uma alternativa viável. Segundo dados do Ministério das Minas e Energias, existem cerca de 10 milhões de brasileiros vivendo em localidades sem energia elétrica, a maioria no Amazonas e Centro-Oeste. Em vários casos, a utilização do sistema fotovoltaico é mais econômica do que a extensão da rede convencional.

No Brasil, a luta é para montar uma primeira indústria. O objetivo é ter uma empresa que, até 2015, produza 100 megawatts ao ano. "Se conseguirmos, ela estará entre as 20 maiores do mundo", prevê o pesquisador. Em setembro, o projeto da planta piloto entregará os primeiros módulos prontos, com previsão de produzir 200 sistemas até maio de 2008. "Vamos provar que é viável fabricar esses equipamentos em escala industrial", conclui Adriano.

4 comentários:

Tobias Amorim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tobias Amorim disse...

Muito obrigado pela reportagem. Conheci o Prof Adriano, acredito bastante nele e gostei muito do projeto.

Creio que este é um bom caminho, mas os objetivos sao um pouco modestos para acompanhar o mercado mundial. O objetivo de se conseguir uma producao de 100 MW para 2015 já é hoje passado de muitas empresas no mundo, mas é um grande passo para o Brasil.

Com essa velocidade, ficará difícil virmos a competir no mercado internacional com participaçao considerável, mas adimiro a iniciativa.

A energia solar possue um enorme potencial para abastecer nossa populacao, essa possibilidade se eleva principalmente se combinar-mos a mesma com sistemas de automoveis hybridos ou puramente movidos a energia elétrica, que funcionam ao mesmo tempo como sistemas de armazenamento temporário de energia enquanto estacionados e conectados a rede.

O Prof. Ricardo Rüther apresentou ano passado em Dresden um trabalho interessante com relacao a instalaçao de painéis solares em aeroportos. Na Alemanha ano passado foram instalados, sobre a arquibancada de varios estádios de futebol, painéis solares como propaganda à energia solar durante a copa do mundo.
Este mes o estado da Bavária na Alemanha comemorou a producao de 1% de sua energia através de sistemas fotovoltaicos. Em 2005 cerca de 50% de todos painel produzido no mundo foram instaladas nesse estado.

Uma movimentaçao no mercado fotovoltaica foi causada em setembro do ano passado pelo anuncio da empresa Dow Corning da producao de silício metalurgico purificado para o emprego em sistemas fotovoltaicos. Assim como a mesma, varias empresas procuram hoje em dia combater um dos principais problemas da industria fotovoltaica que é a falta de materia prima (Silício) ou os altos precos da mesma.

Alexandre disse...

Nós que agradecemos pelas suas contribuições ao blog, Tobias!

Logo que tenhamos novidades sobre o projeto de módulos solares fotovoltaicos em aeroportos brasileiros postaremos aqui.

O Prof. Ricardo Rüther ocupou o cargo de presidente da ISES DO BRASIL na gestão passada.

Abraço!

Tobias Amorim disse...

Sim, disso eu sei, conversei com ele em Dresden. O que me incomodou foi que neste ano quem assumiu foi ou será o professor Pinho e até o momento se mantem a gestao anterior no site como atual.