Uma simulação de 150 anos do desmatamento em todo o mundo descobre que as florestas tropicais são escoadouros de carbono e que as florestas boreais contribuem para o aquecimento
Scientific American Brasil
por Nikhil Swaminathan
12/04/2007
Antes das lâmpadas fluorescentes e do etanol, a primeira opção contra o aquecimento global era plantar árvores. Afinal, as florestas refrescam a atmosfera absorvendo o dióxido de carbono do ar. No entanto, um novo estudo publicado pelos Proceedings of the National Academy of Sciences afirma que, em algumas partes do mundo, outros efeitos climáticos das florestas podem cancelar as vantagens decorrentes de sua capacidade de seqüestrar carbono.
Utilizando um modelo climático tridimensional, a equipe de pesquisa simulou um desmatamento global completo e estudou os efeitos da devastação em regiões de latitudes diferentes, como as zonas tropicais e boreais. Aparentemente, esses escoadouros naturais de carbono cumprem efetivamente o que se espera apenas nas regiões tropicais; em outras áreas, eles não têm nenhum impacto ou chegam mesmo a contribuir para o aquecimento do planeta. Na verdade, de acordo com esse modelo, até o ano 2100, se todas as florestas fossem cortadas e deixadas para apodrecer, a temperatura global anual diminuiria em mais de 0,5 ºF.
“Não tenho certeza se esse pequeno resfriamento é necessariamente significante, mas acabar com todas essas floretas produziu pouquíssimas mudanças na temperatura”, diz o co-autor da pesquisa Ken Caldeira, ecologista da Carnegie Institution do Departamento de Ecologia Global de Washington em Stanford, na Califórnia. “O interessante é que o resultado global é produto de reações muito diferentes em diferentes latitudes”.
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Navin Ramankutty, professor assistente de geografia e ciências do sistema terrestre na McGill University, em Montreal, afirma que esse primeiro estudo abrange as conseqüências do desmatamento no mundo inteiro. “Não se pode simplesmente sair por aí reflorestando às cegas para tentar controlar as mudanças climáticas”, ele diz, ressaltando uma descoberta-chave do estudo. “Os grupos de conservação só falam sobre plantar mais árvores. Nós deveríamos protegê-las por outras razões”.
Caldeira concorda, dizendo que proteger a floresta deveria fazer parte de um esforço para manter a biodiversidade do mundo. Ele afirma também que as descobertas não ampararam o desmatamento total e destruição de habitats de vida selvagem. “Acho que é importante ver a prevenção das mudanças climáticas mais como um caminho do que como um objetivo propriamente dito”, ele diz, “Restringir-se demais à questão do aquecimento global, em vez de focar mais amplamente a proteção da vida no planeta pode levar a resultados inconvenientes.” Mais do que ver as florestas e sua capacidade de capturar o dióxido de carbono como uma maneira de resolver a crise climática atual, ele sugere que nos concentremos em nosso “sistema de energia”, que continua emitindo esse poluente.
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