segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A China quer ser verde

Fonte: Istoé Dinheiro, por Rosenildo G. Ferreira

Até bem pouco tempo atrás, a China era apresentada como uma das principais vilãs do aquecimento global. Para dar conta de um crescimento econômico no patamar de dois dígitos por ano, o país se transformou em um voraz consumidor de recursos naturais.

Isso fez com que a China entrasse na alça de mira de ecologistas e de organismos multilaterais que debatem formas de reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2). Sem dúvida, estavam todos certos.

Com uma política energética fortemente ancorada em termelétricas movidas a carvão, a China ganhou o nada honroso título de uma das nações mais poluídas do planeta. Boa parte de sua população, que atinge a cifra de 1,3 bilhão, tem de usar máscara cirúrgica para sair às ruas, tamanha é a presença de agentes tóxicos na atmosfera.

Na terça- feira 22, o presidente chinês, Hu Jintao, subiu à tribuna da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, para dizer ao mundo que essas imagens, no que depender do governo, ficarão confinadas no passado. O discurso agradou aos ecologistas do Greenpeace e do WWF. Alguns números indicam, pelo menos oficialmente, que a China está realmente apostando em um futuro sustentável.

Um bom exemplo disso é o crescimento da geração de energia eólica. Nos últimos quatro anos, o país superou a Alemanha neste quesito e já disputa a liderança mundial com os Estados Unidos. Essa modalidade garante a produção de 12 gigawatts, montante equivalente à usina hidrelétrica de Itaipu, no Brasil. Até 2020, o governo chinês espera colocar em funcionamento a maior plataforma de energia verde do planeta.

Para isso, anunciou que está disposto a gastar US$ 140 bilhões em projetos de energia alternativa: eólica, solar e biomassa (por meio da queima controlada de insumos e sobras da produção agrícola), além de usinas atômicas. Uma verba fantástica que tem o poder de movimentar, em escala global, os fabricantes de insumos para esses setores por um longo período.

Os projetos já conhecidos apontam para recordes dignos do padrão chinês. A planta de energia solar que será instalada no deserto de Ordos, na Mongólia, vai consumir US$ 6 bilhões. Os críticos da fúria sustentável chinesa podem argumentar que é sempre mais fácil tocar obras em um país onde o debate político é próximo de zero.

Mas isso não invalida a qualidade da opção verde feita pela China. Enquanto os Estados Unidos emitem sinais dúbios sobre seu comprometimento em relação ao aquecimento global, a China avança. E nessa marcha vai desenhando um futuro impensável até bem pouco tempo atrás. É certo que a situação para quem caminha pelas ruas da capital, Pequim, ainda não está, digamos, verde. Cerca de 80% das necessidades energéticas do país são supridas por combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural).

A cada semana é inaugurada uma usina termelétrica movida a carvão no país. Mas o cenário vislumbrado por ecologistas a médio e longo prazos se mostra bem melhor quando comparado ao do início da década. No auge da crise financeira global, em 2008, o governo chinês intensificou os investimentos na chamada economia verde.

Foram liberados recursos para projetos de despoluição de rios, tratamento de água e esgoto, troca de lâmpadas incandescentes por diodos emissores de luz (LED, da sigla em inglês) e até mesmo o cultivo e o plantio de árvores. Somente neste último quesito serão gastos US$ 514 milhões. Pelo visto, a China mudou e pretende passar de vilã a mocinha no debate sobre o aquecimento global.

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