segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Cana ameaça a Amazônia, afirma integrante do IPCC

Folha Online, 20/10/2007 - 16h01
por MAURÍCIO SIMIONATO
da Agência Folha, em Campinas


O climatologista e membro do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) Carlos Nobre, disse ontem em Campinas (95 km de SP) que a expansão do plantio da cana-de-açúcar é uma ameaça à Amazônia.

Nobre integrou a equipe de 600 cientistas de todo o mundo premiada com o prêmio Nobel da Paz pelo relatório sobre mudanças climáticas globais.

Ele defendeu um zoneamento nacional para este tipo de agricultura. "[A cana] É potencialmente uma ameaça. Tem de ter um zoneamento nacional. O que os estudos indicam é que a vocação da Amazônia não é propícia para o plantio da cana", disse ele.

O climatologista afirmou também que defende a tendência de desmatamento zero na Amazônia. Para ele, há muitas áreas já destruídas e que estão abandonadas, podendo servir para uso da agricultura ou da pecuária.

"Sou a favor da tendência ao desmatamento zero, porque não é necessário desmatar", disse. "O desmatamento está alicerçado numa lógica muito fortemente embasada na ilegalidade. É uma indústria da ilegalidade e tem dinheiro envolvido", afirmou.

"Não tem sentido você expandir a fronteira agrícola antes de dar melhor uso para as áreas já desmatadas. Boa parte das áreas desmatadas terão de ser recuperadas."

Bush

Nobre afirmou que o reconhecimento do relatório que deu o prêmio à equipe - dividido com o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore - representou uma derrota para o presidente norte-americano George W. Bush.

"A derrota do Bush foi a contundência do relatório e o fato de que ele [Bush] teve que se vergar ao relatório. Ele teve que mudar o discurso por causa do relatório. Ele não mudou fundamentalmente. Ele mudou só o discurso", disse o cientista, que já foi chefe do CPTEC (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

"O presidente Bush criticou demais o IPCC e a premiação vem resgatar uma credibilidade do processo, que tem um método transparente e único", afirmou. "Não é mais proibido dizer, no governo americano, que são sim as ações humanas que são as responsáveis pela maior parte do aumento do aquecimento global."

Irreversível

Para Nobre, as mudanças climáticas pelas quais passa o mundo são irreversíveis. "Os gases que nós já colocamos na atmosfera vão permanecer na atmosfera por milênios. O impacto já foi dado pelo que já fizemos. Todo mundo tem que entender que este é um problema que não tem mais conserto. Não dá mais para reverter o aquecimento global. O que nós fazemos é lutar para minimizar o impacto."

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