quarta-feira, 15 de julho de 2009

Energia nuclear: Caetité + Angra + Japão + França

Por Alexandre Montenegro

Pelo que ocorre atualmente na extração de urânio em Caetité (ver postagem anterior), se comprova o que já era de se prever: o uso da energia nuclear nunca foi nem nunca será encarado com a devida seriedade e responsabilidade no Brasil.

Estranhamente, pelo que pude notar, a contaminação da água consumida pela população de Caetité observada em 2008 pelo Greenpeace, só foi noticiada pelo Jornal da Record e pelo Instituto de Gestão de Águas e Clima (INGÁ) do governo da Bahia.
Foi verificado em 2008, segundo o INGÁ, em um dos pontos de coleta, concentração de urânio quase cinco vezes acima do limite permitido.
O monitoramento da contaminação local pelo governo só começou a ser feita DEPOIS que o Greenpeace providenciou e recebeu os resultados dos exames das amostras encaminhadas a um laboratório na Inglaterra.
Nos resultados do laboratório inglês, havia contaminação em vários pontos de coleta da cidade. Segundo o site do INGÁ, em 2008 só foi verificada contaminação em UM ponto de coleta e atualmente não há mais NENHUMA contaminação na água consumida pela população local.

Você confiaria que não há mesmo mais contaminação da água de Caetité? Você se arriscaria a tomar hoje a água que a população de lá toma?

E o que se fez quanto à saúde da população que passou meses bebendo da água do único poço cuja água o INGÁ assumiu que estava contaminada nos exames feitos pelo governo da Bahia em 2008??
A resposta é dada também pelo site do INGÁ:
Considerando o princípio da precaução, os órgãos de meio ambiente e saúde do Governo do Estado da Bahia decidiram pela suspensão imediata do consumo da água deste poço específico, e foi providenciado pela Prefeitura Municipal o abastecimento de água alternativo. Visando proteger as famílias que estão na região, principalmente do povoado de Juazeiro, o Governo do Estado interditou o poço contaminado e levou informações claras e precisas à população e às instituições públicas sobre tudo que está acontecendo, em audiência pública e através de ampla divulgação.

Eita programinha nuclear sério! Quem teve problemas de câncer por lá que se dê por satisfeito em ter recebido "informações claras e precisas" sobre a contaminação... Pena que audiência pública e ampla divulgação não curam câncer.

É bem estranho o silêncio dos principais jornais e telejornais brasileiros sobre a contaminação verificada em Caetité. Somente a Rede Record divulgou o problema (veja vídeo nessa postagem).

Na Folha Online, por exemplo, ao se pesquisar Caetité, há várias notícias sobre o Waldick Soriano, mas nada sobre a contaminação lá verificada ano passado. Lamentável.

Isso sem falar no lixo atômico gerado por Angra 1 e 2, que está sendo armazenado "provisoriamente" nas próprias usinas, conforme relatado pelo JB Online. Leia trecho:
Atualmente esses rejeitos são acondicionados em embalagens metálicas e transferidos, provisoriamente, para um depósito construído na própria central nuclear. Já os elementos combustíveis usados, mais fortemente radioativos, são também embalados e colocados dentro de uma piscina no interior das usinas, enquanto esperam para serem exportados para reprocessamento. Segundo dados da CNAAA, Angra 1 produziu desde que entrou em operação 2.228 metros cúbicos de rejeitos de baixa e média atividades e Angra 2, 41,2 metros cúbicos do mesmo tipo de lixo atômico. O governo estuda a implantação de um sítio permanente para estocar lixo radioativo em algum ponto do território nacional.

"Provisoriamente", desde 1986... Seriedade e segurança não são mesmo os pontos fortes do programa nuclear do Brasil...

E pra não achar que o problema é só no Brasil, segue trecho de notícia publicada no portal Terra sobre as usinas nucleares do Japão:
O pior acidente em uma instalação nuclear no Japão aconteceu na planta de processamento de urânio em Tokaimura, ao norte de Tóquio, no dia 30 de setembro de 1999. Três empregados mal-treinados acionaram uma reação nuclear descontrolada em cadeia, e o vazamento de radiação matou dois trabalhadores e obrigou a retirada de centenas de moradores.
Em um incidente separado, nesta segunda-feira [09.08.2004], a Tokyo Electric Power Co. (TEPCO), maior produtora de energia do país, disse que tinha fechado uma unidade de geração nuclear em sua planta de Fukushima-Daini devido a um vazamento de água.
Em abril de 2003, a TEPCO foi obrigada a fechar temporariamente todas as suas 17 usinas nucleares depois de admitir que tinha falsificado documentos de segurança por mais de uma década. Essas revelações minaram a confiança popular na indústria nuclear no país.Várias cidades no Japão realizaram referendos nos últimos anos e votaram contra a construção de mais usinas nucleares.


Mas uma boa notícia vem da França, divulgada mês passado no blog Ondas3:
"O nuclear está morto. Acabei de o matar!" afirmou Sarkozy em Copenhague. "Esta morte libera um primeiro investimento de 10 bilhões de euros em fontes renováveis de energia na França e de 5 bilhões de euros para ajudar os países pobres a combater as alterações climáticas e a reduzir o desflorestamento até 2015. Vamos também abandonar o apoio estatal à construção de centrais nucleares de nova geração e abortar o projeto de Olkiluoto na Finlândia. O contribuinte francês não subsidiará mais a moribunda indústria nuclear. Usaremos este dinheiro para o benefício das nossas gerações futuras, não para as sobrecarregar com riscos nucleares e morte... lamento, dívidas." (Leia artigo original no International Herald Tribune)

Leia também:
EUA têm provisão insuficiente para desativar usinas nucleares

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