quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Chuveiro que recicla próprio calor mostra dificuldades para inovar

Revista Sustentabilidade, 25/10/2007
por Alexandre Spatuzza


Em 1998, o empresário e técnico em condicionamento de ar Geraldo Magalhães teve a idéia de desenvolver um chuveiro elétrico mais eficiente. Se hoje ele fabrica 1.000 unidades por mês do chuveiro 'reciclador de calor' a pedido Cemig é porque, sem apoio, ele teimou e investiu quase que sozinho no projeto.

O contrato com a Cemig encomendando 7.000 unidades foi assinado no dia 20 de setembro, dentro do programa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que determina que as concessionárias invistam 0,5% de sua receita líquida em programas de eficiência energética destinados à população de baixa renda.

"Hoje temos uma fábrica que emprega 15 funcionários", disse. Magalhães vende o chuveiro no varejo por R$ 390.

Se hoje Magalhães está em tratativas com outras concessionárias de eletricidade - uma delas em São Paulo – e pensa em expandir a fábrica para ter uma capacidade de 3.000 unidades em 2008, a realidade anterior foi bem diferente, pois durante todo o caminho ainda faltaram apoio, financiamento e interesse.

"Na verdade só houve interesse quando se começava a discutir falta de energia", lembrou, apontando que o interesse ressurgiu agora, com a discussão na mídia sobre falta de energia nos próximos anos por causa do crescimento econômico.

Apesar da idéia inicial ter surgido em 1998, foi apenas em 2001, auge do 'apagão', que Magalhães recebeu apoio de R$ 16.000,00 da Cemig, a fundo perdido, para testar e certificar o projeto na PUC de Minas Gerais.

O contato inicial com a Cemig tinha sido feito em 2000, só com o 'apagão' um ano depois é que a estatal enviou o engenheiro Carlos Ayres, coordenador do Departamento de Eficiência Térmica, para avaliar o projeto.

Passados seis meses de testes que comprovaram 44% de redução no consumo de energia, Magalhães ficou de novo à deriva, sem apoio, mesmo após bater na porta da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

Insistindo no projeto, ele montou artesanalmente e vendeu 200 unidades país afora com recursos próprios.

"O mais difícil de fazer foi 'bolar' as ferramentas para montar o equipamento", explicou.

O chuveiro 'reciclador de calor' funciona da seguinte maneira: a água quente escorre do corpo, é coletada num acumulador no chão e aquece a água que vem da caixa ao passar por uma espécie de serpentina de alumínio dentro do acumulador. Daí, a água água já morna volta para o filamento do chuveiro elétrico.

Como a água já chega no filamento do chuveiro a mais ou menos 20 graus Celsius, a potência necessária para aquecer a água para em torno 40 graus - temperatura normal de um banho quente - é inferior a de chuveiros convencionais.

"Ao invés de usar um chuveiro de mais de 4.000 watts (W) de potência, dá para usar um de 2.000 W a 3.000 W", disse. "No sul do país, um chuveiro de 4.400 W substitui um de 7.400 W. Não só se reduz a carga elétrica necessária para aquecer a água a uma temperatura confortável de banho, mas também reduz o uso de água, pois nos dias quentes quantidade de água usada é menor", explicou Magalhães.

Os detalhes técnicos: a água acumulada no chão flui a 3 litros por minuto e altura do chuveiro ao acumulador é de 2,20 metros de altura.

FALTA DE APOIO

Hoje a empresa de Magalhães, a Rewatt, investe 10% da receita em departamento próprio de pesquisa - mesmo ainda esperando pela patente do chuveiro - e já está pagando os investimentos que os sócios Valério José Monteiro e Marco Antonio Resende também fizeram, estimados em R$ 500 mil, sem contar com o trabalho não remunerado, incluindo a época em que foram desenvolvidos 100 protótipos.

Outros projetos já estão sendo desenvolvidos com o orçamento de P&D da micro-empresa, garantindo apoio à inovação que Magalhães não teve durante uma década.

A Rewatt pretende continuar focando em eficiência energética, especialmente através de projetos que usam sistemas de troca de calor, apesar da falta de apoio e até de programas governamentais mais incisivos a favor da eficiência energética.

Magalhães lamenta a falta de apoio à pesquisa, pois são os programas de eficiência energética que se fazem realmente necessários para o país.

"A conservação de energia é importante mas algo precisa ser feito", sugeriu. "As pessoas só mudam quando se mexe com o bolso, por isso eu acho que quando o consumo passa de 150 kWh por mês a tarifa deveria ser bem mais alta."

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Leia também:
Revista Pesquisa Fapesp - Chuveiro esperto - Empresa mineira desenvolve sistema que recupera calor da água do banho
pág.1, pág.2, pág.3

Visite o site da Rewatt

2 comentários:

Alexandre disse...

O blog agradece a Luiz Roberto Barbosa (UFSC) e a Alessandra Mathyas (Instituto IDEAL) pela indicação da notícia.

claudcriseventos.blogspot.com.br disse...

como faço para comprar um destes