domingo, 12 de agosto de 2007

Operação Moeda Verde, versão Espanha

10/8/2007
por Tadeu Meyer Martins (tadeu.meyer@gmail.com)
Colaborou Alexandre Montenegro (alex.ises.br@gmail.com)

Uma região da Espanha visitada pelo governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (LHS), em março último, foi tema de artigo da Folha no domingo (5/8): "Boom imobiliário destrói litoral espanhol". Opa! Que coincidência com a situação vivida em Florianópolis!

E o artigo continua: "Quase 400 prefeituras estão sob investigação por obras irregulares, muitas em praias sob proteção ambiental; cinco prefeitos estão presos". Alguma semelhança com a Operação Moeda Verde, da Polícia Federal?

Segundo artigo publicado no site do Governo do Estado de Santa Catarina, LHS comemorava, em março último, a decisão de um grupo espanhol [!] de investir em um grande complexo turístico em Santa Catarina, com uma estrutura de até dez vezes o tamanho do projeto de Jurerê Internacional [!!].

No artigo da Folha aparece a cidade expoente da prosperidade espanhola. "O maior foco dessa corrupção é um antigo reduto do jet-set europeu, Marbella, na Costa do Sol, ao sul do país, onde um prefeito foi deposto em 2002 e seus dois sucessores estão presos por corrupção e abusos urbanísticos".

O artigo “Governador aponta entraves”, publicado no jornal A Notícia, em 27 de março de 2007: "O novo complexo turístico ficaria sediado em Governador Celso Ramos, com estrutura semelhante à encontrada pela comitiva de Luiz Henrique em Marbella [uau!], na Espanha, incluindo um terminal para transatlânticos e marina para mais de 500 barcos".

Nosso governador é ou não é um piadista? Pena que o palhaço da história não seja ele.

Em tempo: LHS ganhou em 2006 o Prêmio Motosserra de Ouro, da Rede de ONGs da Mata Atlântica. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, Santa Catarina foi líder em desmatamento do bioma entre 2000 e 2005, período em que aumentou seu índice de desmatamento em 8%, equivalente à supressão de 48 mil hectares de florestas. Outros sete Estados, juntos, desmataram 46 mil hectares.

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Leia a seguir os artigos citados acima.
Leia mais sobre a Operação Moeda Verde clicando aqui.
Veja vídeos sobre a Operação Moeda Verde clicando aqui.

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Boom imobiliário destrói litoral espanhol
www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0508200701.htm
Quase 400 prefeituras estão sob investigação por obras irregulares, muitas em praias sob proteção ambiental; cinco prefeitos estão presos
Juros baixos, riqueza da classe média, demanda de aposentados europeus e lavagem de dinheiro de máfias vitaminam setor
Folha de São Paulo
Raul Juste Lores, da reportagem local
5/8/2007


Uma trama que reúne empreiteiros gananciosos, construções irregulares, prefeitos presos e as mais variadas máfias ameaça um dos mais disputados litorais do mundo.

Com exceção dos prefeitos presos, a história poderia facilmente acontecer em alguma parte do litoral brasileiro. Mas é na Espanha onde governos corruptos têm autorizado obras em cada metro quadrado ainda virgem do litoral.

Construções irregulares criam resorts, hotéis e torres em áreas de preservação ambiental. Até a União Européia chamou a atenção do país, no mês passado, pela destruição de sua costa mediterrânea.

Um conjunto de fatores contribui para o boom imobiliário espanhol, um dos principais motores para o crescimento do país na última década.

Internamente, há os juros baixos, uma classe média endinheirada louca para ter um segundo imóvel na praia e um crescimento populacional acelerado provocado por milhões de imigrantes.

De fora, pesam os milhares de aposentados britânicos, alemães e escandinavos que sonham em ter uma casinha sob o calor espanhol, tão raro no continente, a preços razoáveis.

"A máfia russa, os narcotraficantes e os grupos delinqüentes internacionais e nacionais descobriram no litoral espanhol uma grande lavanderia de dinheiro", disse à Folha o analista político Carlos Malamud, do centro de estudos Instituto Real Elcano.

"Isso foi reforçado pela corrupção existente, das prefeituras e de quem decide o zoneamento dessas cidades."

Lei permissiva

Tudo começou com a chamada Lei do Solo, aprovada pelo governo conservador de José María Aznar em 1998. Praticamente todo o solo espanhol se tornou passível de urbanização. De lá para cá, a Espanha construiu cerca de 800 mil unidades habitacionais por ano, mais do que França, Alemanha e Reino Unido juntos.

Mesmo assim, o preço médio do metro quadrado cresceu 150% no mesmo período. Dos 20 bilionários espanhóis na última lista da revista Forbes, oito pertencem ao mundo da construção civil.

Esse boom é mais sentido no litoral, pela cobiça por sua costa com sol e temperaturas acima dos 18ºC na maior parte do ano. A Espanha recebe mais de 60 milhões de turistas por ano, e o que a imensa maioria ainda quer é sol e praia.

Empreiteiros e especuladores começaram uma caça aos espaços ainda virgens e intocados, e contaram com a colaboração de governos municipais dispostos a autorizar qualquer obra. Entre 2000 e 2006, foram denunciadas irregularidades urbanísticas em 397 cidades, a maioria no litoral da Andaluzia e da Comunidade Valenciana.

Uma cruzada liderada por uma dezena de juízes e promotores públicos já colocou cinco prefeitos e dezenas de vereadores atrás das grades.

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Manhattan e Miami ibéricas expõem excesso à beira-mar
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0508200702.htm
Folha de São Paulo
Raul Juste Lores, da reportagem local
5/8/2007

Uma enorme investigação do Ministério Público espanhol descobriu que dezenas de prefeitos, vereadores, juízes, advogados e funcionários públicos de seis diferentes Províncias espanholas receberam presentes da imobiliária Aifos.

De hospedagem em hotéis cinco estrelas a tratamentos médicos e de beleza, tudo era oferecido aos corruptíveis elos que permitiam construções ilegais da empresa.

O maior foco dessa corrupção é um antigo reduto do jet-set europeu, Marbella, na Costa do Sol, ao sul do país, onde um prefeito foi deposto em 2002 e seus dois sucessores estão presos por corrupção e abusos urbanísticos.

A cidade é uma Miami espanhola, cheia de lojas de luxo, spas e clínicas de cirurgia plástica. Com apenas 125 mil habitantes, tem a maior concentração de iates da Europa e possui 15 campos de golfe (para se ter uma idéia, o Estado de São Paulo inteiro tem 38).

O maior palácio da família real saudita na Europa está lá, uma versão muito ampliada da Casa Branca, de Washington, que abriga até 500 hóspedes. Em Marbella, há 30 mil casas e apartamentos irregulares. A cidade serviu como cenário para festas de contrabandistas nos filmes "Syriana" (com George Clooney) e "Munique" (de Steven Spielberg).

Como uma cantora muito popular na Espanha, Isabel Pantoja, namora um dos ex-prefeitos presos (e recebeu depósitos milionários dele), o escândalo imobiliário foi parar na revista "Hola!", a revista de celebridades que é a bisavó da "Caras", para delírio de fofoqueiros e paparazzi espanhóis.

Só na operação de Marbella, 86 pessoas já foram presas e mais de US$ 3 bilhões foram apreendidos com os corruptos, de obras de arte a cavalos de raça, de Porsches a jóias.

Outro caso dos exageros à beira-mar é Benidorm, na Comunidade Valenciana. Com menos de 70 mil habitantes, Benidorm se orgulha de ter a segunda maior concentração de arranha-céus do mundo por metro quadrado, depois da ilha de Manhattan, em Nova York.

É a versão mais rica e kitsch de Balneário Camboriú. Lá, os andaimes não param de subir: um edifício residencial de 200 metros de altura está em construção, maior que o mais alto hotel da Europa, o local Bali III, com 52 andares e 186 metros.

Barreiras e demolição

Demorou, mas a sucessão de escândalos e descalabros urbanísticos e paisagísticos começa a ser freada. Em Algarrobico, na Andaluzia, em uma praia ainda deserta, um solitário hotel de 22 andares quase pronto foi interditado pelo governo. Será demolido - e o grupo Greenpeace pichou o prédio com letras enormes: "ilegal".

Já em Marbella, o governo andaluz tirou a competência da prefeitura em matéria urbanística por mais de um ano, até que outro prefeito fosse eleito. Várias prefeituras têm perdido o direito de legislar sobre o solo, com intervenções regionais e até do governo nacional.

A melhor notícia para o litoral espanhol, porém, é que provavelmente a bolha da construção imobiliária esteja perto do fim, ou pelo menos, de uma forte desaceleração, com menos crédito, preços dos imóveis menos competitivos e maiores barreiras à construção.

No mês passado, entrou em vigor a nova Lei do Solo, proposta pelo governo socialista, que determina 30% do solo residencial para conjuntos habitacionais populares e promove a participação popular em planos urbanísticos.

Mas os excessos da construção civil e a permissividade de governos locais ainda servirão por um bom tempo como exemplo do que pode acontecer com outros paraísos naturais.

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Governador aponta entraves
Pouca divulgação de Santa Catarina e legislação inibem investidores, diz Luiz Henrique
Jornal A Notícia
Economia, pág. A12
27/3/2007


Florianópolis - O desconhecimento sobre as oportunidades que existem em Santa Catarina e a "insegurança jurídica" são os principais entraves para a chegada de novos investimentos. A avaliação é do governador Luiz Henrique da Silveira que ontem fez um balanço dos 14 dias de viagem em missão oficial à França, Alemanha e Espanha.

O principal ganho da viagem, disse LHS, foi a divulgação do potencial catarinense no exterior. Da viagem, trouxe a garantia de dois investimentos: a ampliação das instalações do grupo empresarial alemão Thomas Netzsch em Pomerode e a instalação de um empreendimento turístico espanhol com estrutura que pode chegar a dez vezes o tamanho do projeto de Jurerê Internacional, localizado em Florianópolis.

O novo complexo turístico ficaria sediado em Governador Celso Ramos, com estrutura semelhante à encontrada pela comitiva de Luiz Henrique em Marbella, na Espanha, incluindo um terminal para transatlânticos e marina para mais de 500 barcos.

Ao apresentar o projeto, o governador atacou o que chama de "eco-radicalismo". Acusa de questões técnicas – principalmente ambientais – serem transformadas em apelo político e impedir a concretização de investimentos no setor. Citou o caso do campo de golfe embargado em Florianópolis por questões ambientais. "Não pode ter um campo de golfe ou uma marina. O que vale é pobreza, o que vale é a Favela do Siri (localizada próxima ao empreendimento). Isso pode."

Outros investimentos no Estado estariam bem encaminhados após a missão oficial. Entre eles, a instalação de unidades dos grupos alemães Carl Zeiss (que atua na indústria óptica e optoeletrônica, com representação em mais de 30 países) e MW Zander, de produção de chips eletrônicos. Luiz Henrique afirma que os principais argumentos utilizados foram o grande número de catarinenses com descendência (sic) européia e os índices econômicos, de segurança e educacionais – além de mostrar Santa Catarina como o epicentro do Mercosul.

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Luiz Henrique avalia missão à Europa em coletiva
Site do Governo do Estado de Santa Catarina
26/3/2007

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Na bagagem, o governador trouxe mais que a prospecção de negócios. Tem confirmado, entre outros acordos, um investimento significativo da empresa alemã Thomas Netsch, em Pomerode; a vinda de um empreendimento turístico espanhol, que pode gerar até 12 mil empregos diretos; e a presença do bailarino Mikhail Baryshnikov para uma apresentação na abertura do 25º Festival de dança de Joinville.

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Espanha - Luiz Henrique também comemorou a decisão de um grupo espanhol de investir em um grande complexo turístico em Santa Catarina, com uma estrutura que pode chegar a dez vezes o tamanho do projeto de Jurerê internacional. A estrutura, semelhante a que existe em Marbella, na Espanha, deve ter um terminal para transatlânticos e uma grande marina, para mais de 500 barcos. “Precisamos compreender que este empreendimento vem para gerar emprego, desenvolvimento, para aumentar a renda do nosso povo. Que uma marina, um terminal turístico e um campo de golfe não vão provocar danos à natureza”, enfatizou.

Luiz Henrique fez questão de destacar que dentro da marina de Marbella existe uma profusão de peixes. “É preciso que criemos a mentalidade do desenvolvimento sustentável e não do radicalismo que impeça o desenvolvimento e a geração de emprego e renda para a nossa gente”. O governador disse ainda que um outro grupo espanhol vai investir nos portos catarinenses, especialmente nos de São Francisco e Imbituba.

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