segunda-feira, 3 de agosto de 2009

China vê futuro na energia limpa

Folha Online, 03/08/2009

China - Enquanto os Estados Unidos dão seus primeiros passos no sentido de exigir que as empresas elétricas gerem mais energia de fontes renováveis, a China já tem uma regra similar e está investindo bilhões para se recriar como uma superpotência da energia limpa.

Combinando incentivos e regulamentos, Pequim começa a mudar a forma como gera energia. Embora o carvão seja, e certamente continuará sendo, a maior fonte energética, a ascensão da energia renovável, especialmente eólica, ajuda a desacelerar o forte crescimento das emissões chinesas de gases do efeito estufa.

Neste ano, a China deve superar os EUA como o maior mercado mundial de turbinas de vento, depois de duplicar sua capacidade de geração eólica a cada um dos últimos quatro anos. Estatais de energia competem para ver qual é mais rápida na construção de usinas de energia solar, embora tais projetos sejam muito menores que os eólicos.

E outros projetos de energia limpa, como a queima de detritos rurais para a geração de eletricidade, também estão brotando. Dunhuang, uma cidade-oásis nos confins do deserto de Gobi (norte), junto à famosa Rota da Seda, se tornou um dos centros do esforço chinês para liderar o mundo em termos de energia solar e eólica.

Uma série de projetos está em fase de obras no planalto quase sem vida a sudeste de Dunhuang, inclusive 1 dos 6 imensos projetos de energia eólica atualmente em construção na China, cada um deles com capacidade superior a 16 grandes usinas termoelétricas a carvão.

Cada um dos projetos "faz parecer pequena qualquer outra coisa, em qualquer outro lugar do mundo", disse Steve Sawyer, secretário-geral do Conselho Global da Energia Eólica, de Bruxelas.

Isso não significa que a China se tornará um gigante "verde" da noite para o dia. Entre outras coisas porque o consumo energético chinês deve crescer continuamente ao longo da próxima década, conforme 720 milhões de camponeses chineses adquirirem aparelhos de ar condicionado e outras amenidades já comuns entre os 606 milhões de habitantes urbanos da China.

Algumas autoridades reguladoras temem que as regras do governo estimulem as empresas a irem longe demais, rápido demais. Elas poderiam estar deliberadamente apresentando propostas baixas nas concorrências para novos projetos e planejando posteriores indenizações do governo quando os mesmos projetos derem prejuízo.

"O problema é que temos tantas empresas estúpidas", disse Li Junfeng, diretor-geral-adjunto para pesquisa energética da principal agência chinesa de planejamento econômico e secretário-geral da estatal Associação das Indústrias da Energia Renovável.

O banco HSBC prevê que a China investirá mais dinheiro na energia renovável e nuclear até 2020 do que na eletricidade a carvão e petróleo.

Um grande ímpeto foi a exigência, baixada em setembro de 2007, de que até o final de 2010 pelo menos 3% de toda a eletricidade gerada por grandes empresas energéticas viessem de fontes renováveis. O cálculo exclui a energia hidrelétrica, que já representa 21% da matriz energética chinesa, e a energia nuclear, que representa 1,1%. Até o final de 2020, as empresas chinesas terão de gerar 8% da sua energia a partir de fontes renováveis (exceto hidrelétrica).

Mas pipocam obstáculos técnicos à energia renovável. Durante a primavera, por exemplo, após cada tempestade de areia os painéis solares de Dunhuang ficam inutilizados até que sejam limpos por esquadrões de operários que usam espanadores para não riscá-los - um processo que pode levar dois dias.

E as turbinas de vento estão sendo erguidas mais rapidamente na China do que a capacidade do país de construir redes de alta voltagem. No dias de mais vento, só metade da energia gerada pode ser distribuída, segundo Min Deqing, consultor local de energia renovável.

Mesmo assim, as autoridades municipais defendem mais projetos. "Isto é o deserto de Gobi", disse Wang Yu, vice-diretor de planejamento econômico. "Não há muitos outros usos para ele."

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