Lixo nuclear brasileiro é depositado "provisoriamente" em piscinas há 30 anos.
Site Inovação Tecnológica
por Tatiana Fiuza, Gestão C&T
20/11/2007
Célio Berman, pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), considera fundamental que o Brasil resolva a questão da destinação dos resíduos nucleares, antes que se comece a pensar na construção de Angra 3.
Riscos da energia nuclear
O pesquisador disse que o país deve levar em conta os riscos que a produção desse tipo de energia pode causar. Ele lembrou que o armazenamento dos resíduos, no Brasil, é feito de forma provisória. "Os resíduos são depositados em piscinas. É um provisório que está se tornando definitivo", avaliou.
Segundo Berman, 75% da energia consumida no país é oriunda de hidrelétricas. O pesquisador contou que esse tipo de produção de energia é considerada limpa, renovável e ainda é barata. Mas, em sua opinião, o governo brasileiro deve levar em conta que terá de pagar mais caro pela produção desse tipo de energia. "O Movimento de Atingidos por Barragens está aí para cobrar uma desapropriação decente das terras", lembrou.
Fontes alternativas de energia
A idéia, segundo pesquisador, é que o país comece a pensar em outras formas de se produzir energia. "Mas que não ingresse no mercado das commodities", alertou. O governo brasileiro vem atuando na promoção da produção de agroenergia, ou seja, a energia produzida a partir da agricultura.
Cana-de-açúcar
Berman contou que, na década de 1980, a produção de cana-de-açúcar era de 2,6 milhões de hectares. Em 2000, passou para 5 milhões de hectares e, no ano passado, chegou a 7 milhões. Dados apresentados pelo pesquisador mostram que 63% da produção de cana-de-açúcar do país está localizada no Estado de São Paulo.
"Nos últimos cinco anos houve ainda uma expansão da área agrícola destinada a produção de cana em São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná. Áreas que são sensíveis do ponto de vista ambiental, pois compreendem o Cerrado e o Pantanal", disse.
Trabalho escravo
Ele lembrou ainda que o Brasil não tem uma política séria voltada para a exterminação do trabalho escravo na produção da cana. Pesquisas realizadas por Berman no interior de São Paulo mostraram que o trabalhador que colhe a cana-de-açúcar é supervisionado para cortar de 10 a 12 toneladas de cana por dia.
Segundo ele, nem mesmo a mecanização da colheita pode resolver o problema. Isso porque, de acordo com o pesquisador, uma máquina retira do campo mais de 60 trabalhadores. "Além disso, um trabalho feito pela USP mostrou que os produtores de cana para aumentarem a velocidade de colheita da planta fazem a queima da ponta da palha, o que vai contra o meio ambiente."
Programa Selo Combustível Social
Outro problema apontado pelo pesquisador diz respeito ao Programa Selo Combustível Social. A iniciativa, desenvolvida pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, destina um selo aos produtores que compram matéria-prima de pequenos agricultores. "O programa transforma o agricultor em mero produtor de grãos, além de não permitir que ele escolha os melhores compradores, pois os agricultores são obrigados a vender para um determinado produtor", salientou.
Segundo Berman, uma alternativa seria criar mecanismos para que os pequenos agricultores não sejam apenas vendedores de matérias-primas, mas sim, tenham o controle de toda a cadeia de produção de biodiesel. "O selo deveria promover a adequação dos produtores aos padrões da cadeia do pequeno agricultor e não legitimar uma forma de ação que é extremamente excludente", disse.
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